Segundo o coordenador da ASA, Naidson Batista, a ideia de implantar cisternas de polietileno tira do nordestino o direito de participar no processo de construção. “Elas não se inserem na dimensão de uma política de convivência com o semiárido. Primeiro porque ela não respeita a realidade local, pois adota tecnologias que a população não domina. Uma cisterna de plástico vem de São Paulo e é implementada sem nenhuma participação da comunidade, que assiste apenas. Se ela apresentar algum problema, a comunidade não sabe lidar. Ou seja, ela movimenta a economia paulista, não a economia local”, disse.
“Além disso, com essa postura, o governo não assume a realidade da comunidade, não emprega os pedreiros. É, na verdade, uma reedição da política de combate à seca adotada por décadas, quando se trazia pacotes prontos, tirando a capacidade do semiárido de gerir seus problemas. Isso aconteceu durante anos e gerou a miséria”, afirmou.
Esta semana, em Crateús (CE), produtores rurais foram às ruas pedir o fim da instalação das cisternas de polietileno. Em Petrolina --berço político do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, chefe maior do projeto de cisternas de polietileno-- um grande protesto reuniu, em dezembro de 2011, mais de 10 mil pessoas, que também pediram o fim da compra de cisternas de plástico.
"A gente já teve aqui algumas cisternas de plástico, e elas não funcionaram. Elas não seguravam a água. Nesse novo modelo, a empresa vem, fura um buraco e joga a cisterna dentro. E a gente quer algo que gere alguma renda, contrate os pedreiros aqui no Estado. Dia 23 vamos com três ônibus, só aqui da região, para Fortaleza, para pressionar por essa mudança", disse o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Crateús, Antônio Ximenes.
Agilidade
Segundo nota enviada ao UOL pelo Ministério da Integração Nacional, a ideia de inserir as cisternas de polietileno foi tomada “para ganhar agilidade na implementação do programa Água Para Todos e, com isso, universalizar o acesso à água de consumo e produção no semiárido até 2014.”
O ministério disse que o governo fará 450 mil cisternas de placa, com a utilização de pedreiros locais. O órgão negou que as cisternas de polietileno sejam feitas sem a participação dos nordestinos.
“A fabricação das cisternas de polietileno está sendo feita no próprio semiárido, com a instalação de cinco fábricas, que utilizam mão de obra local e, com isso, movimentam bastante a economia dessas regiões. As cisternas possuem garantia de fábrica e, caso apresentem algum defeito de fabricação, serão trocadas imediatamente. Além disso, é grande o envolvimento da comunidade local a partir da criação dos comitês gestores municipais. Estes possuem grande participação da sociedade civil local e são responsáveis pela gestão do programa no âmbito do município", disse o ministério.
Responsável pela instalação das cisternas, a Codevasf argumentou ainda que a tecnologia das cisternas já se mostrou aplicável em várias situações. "Outro fator importante a ser ressaltado deve-se ao fato da rapidez de execução, proporcionando um benefício mais rápido às famílias carentes e sem acesso à água. A vida útil dessas unidades é de no mínimo 20 anos, o que representa um custo/benefício bem significativo."
Nenhum comentário:
Postar um comentário